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quinta-feira, 8 de novembro de 2012

Estudos Sobre o Batismo (parte 1) - Significado dos Termos no Grego Clássico



INTRODUÇÃO

Este estudo é parte de uma série sobre a forma do batismo. A perspectiva do mesmo é a de uma defesa do batismo por aspersão. Nosso propósito não é polemizar ou ofender algum irmão que tenha pensamento diferente, mas dar a todos os que nos pedirem, uma razão da nossa fé.

Muitas vezes os imersionistas nos acusam de praticar um batismo não bíblico. Como entendemos que a forma de batismo é secundária, não damos muita ênfase à questão. Isso, às vezes, parece dar a impressão de que não estamos seguros da nossa posição, e que não podemos defendê-la pela Bíblia. Este estudo é uma resposta às acusações que sofremos.

É importante ressaltar que a Bíblia apenas ordena que se batize em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo, sem estabelecer nenhuma forma específica. Toda a discussão, portanto, gira em torno do significado da palavra batismo. O argumento mais conhecido dos imersionistas, especialmente os batistas, é que batizar é imergir, e imergir é batizar. Vamos, então, estudar o significado dos termos bapto e baptizo no grego clássico e no grego judaico para demonstrar que a questão não é tão simples como querem fazer parecer os imersionistas.

SIGNIFICADO DOS TERMOS NO GREGO CLÁSSICO:

Os batistas têm, historicamente, insistido que no grego clássico Bapto e baptizo significam imergir e que, portanto, quando Jesus ordenou que batizássemos os discípulos, ele ordenou que os imergíssemos. Eles estão tão certos de que a ordem é para imergir, que, alguns estudiosos batistas, chegam a ensinar que se não for possível imergir em água, deve-se imergir em areia.

Contudo, verificaremos que estes termos não significam exclusivamente imergir na literatura clássica.

O estudioso James W. Dale [1], em seu livro Classic Baptism, faz um extenso estudo do uso das palavras no grego clássico e dá vários exemplos em que são empregadas com outros sentidos que não imergir; eis apenas alguns [2]:

A água, quando é derramada sobre o vinho o batiza.
Sangue derramado sobre um lago o batiza (tinge)
Fala-se de alguém que batizou (tingiu) o cabelo
Um ator grego, segundo Aristófanes, batizava o seu rosto com a borra do vinho para pintá-lo
Um homem bêbado é um homem batizado (intoxicado ou sob a influencia do vinho)
Um homem que usou alguma droga foi batizado por ela
Um homem que bebe na fonte da Silenius se torna um homem batizado
Um homem envenenado foi batizado com o veneno
Uma pessoa preocupada com problemas, foi batizada por eles
            Plutarco fala de um homem que tendo imolado um inimigo ficou com as mãos batizadas com o seu sangue

            Em nenhum destes e de muitos outros casos, o sentido é de imersão. Seria absurdo traduzir cada um destes exemplos como imergir.

No grego clássico a palavra é usada em mais de cem sentidos diferentes. Para citar apenas alguns: tingir, morrer, intoxicar, envenenar, embriagar, sofrer um choque psicológico, estar oprimido pelo mal, pela raiva ou infortúnios, estar deprimido, sobregarregado, estar com sono, ser muito afetado por um evento, estar incapacitado, estar debilitado etc.

           O Dr. Dale define assim o termo batizar: "Tudo o que é capaz de mudar completamente o caráter, estado ou condição de qualquer objeto, é capaz de batizar esse objeto; e é por essa mudança de caráter, estado ou condição que de fato o batiza"

O significado da raiz da palavra grega sugerida por muitos estudiosos da Bíblia, é a "identificação", e não “submersão”. Nos exemplos dados acima, fica clara a ideia de identificação.

Contudo, vamos imaginar um cenário irreal, em que as palavras bapto e baptizo realmente significassem exclusivamente imergir (o que, conforme vimos, não é verdade); ainda teríamos um sério problema em estabelecer a forma de batismo por meio do uso destas palavras, pois em vários exemplos do uso no grego clássico, em que elas significam imersão, não significam submergir totalmente: há por exemplo no grego clássico o relato de soldados que foram batizados (imersos) até os peitos num brejo.

Mesmo que Jesus quisesse dizer, quando ordenou o batismo, que praticássemos a imersão, não significaria, pelo significado da palavra, que deveríamos imergir todo o corpo. Será que não significaria para imergir apenas o dedo? Ou os pés? Ou imergir o candidato só até o peito (como os soldados)?

E mais, pelo uso da palavra no grego clássico, Jesus poderia estar ordenando que o candidato bebesse a água, ao invés de ser imerso nela (como no caso de quem era batizado por beber um veneno ou a água da fonte de Silene), ou que a mesma fosse aplicada apenas ao seu rosto, como fazia o ator com a borra do vinho. Vê-se que pelo significado da palavra no grego clássico nada pode ser estabelecido quanto à forma do batismo.

Outro problema com a tentativa de estabelecer a imersão, como única forma de batismo, por meio do uso dos termos bapto e baptizo no grego clássico, é que o Novo Testamento não foi escrito em grego clássico, mas no grego koinê, o grego helenístico, a “linguagem do mercado”. Este grego é muito diferente do clássico, muito mais do que o português do Brasil e de Portugal. Como as palavras mudam de sentido com o tempo, no português do Brasil e Portugal algumas palavras tem significados opostos [3]:

“Durex” no Brasil é fita adesiva, em Portugal é “preservativo”;
Se você quiser pedir uma “calcinha feminina” numa loja em Portugal terá que pedir uma “cueca”;
Se quiser ir ao “banheiro” terá que perguntar onde fica o “salva-vidas”;
Se vir um grupo de crianças pode dizer sem medo que são “canalhas”;
E por aí vai. As diferenças entre o grego clássico e o Koiné (o grego usado pelos judeus e pelos povos não-gregos do Império Romano nos dias de Jesus, no qual foi escrito o NT) são as mesmas.

Veja também alguns exemplos de palavras que mudaram de sentido com o tempo:

RIVAL: o sentido original desta palavra é simplesmente para designar habitantes de margens opostas de um rio. Hoje significa contendor.

SALÁRIO: era a quantidade de sal que se dava como pagamento aos trabalhadores. Modernamente, passou a significar ordenado.

QUARTO: esta palavra era usada para determinar a quarta parte. Hoje, as casas tem dois quartos, três quartos e outros cômodos maiores, como a sala, por exemplo.

LENÇOL: Por incrível que pareça, lençol vem do latim “linteolu” e é o diminutivo de lenço.

MARECHAL: etimologicamente significa “o tratador de cavalos”. Entretanto, o seu sentido se enobreceu e o vocábulo indica hoje o mais alto posto do exército.

RESUMINDO:

Os batistas dizem que “batizar é imergir e imergir é batizar”. Isso é verdade? Não no grego clássico, em que, conforme vimos, a palavra tinha sentidos variados. Contudo, mesmo que fosse verdade, isso não provaria nada, pois o grego dos judeus e dos autores do Novo Testamento não era o clássico, mas o koinê. O sentido de uma palavra no grego clássico pode ajudar a esclarecer, mas não pode, jamais, definir o sentido de uma palavra no NT.

(continua)


BIBLIOGRAFIA:

[1] Classic Baptism (An inquiry Into The meaning of the word Baptizo. As determined by the usage of Classical Greek Writers). Veja também seus outros dois livros: Judaic Baptism e Johannic Baptism.

[2] Para ver algumas fontes e exemplos destes usos nos clássicos pode consultar, além do referido livro, este link (em inglês):http://www.benkeshet.com/webhelp_baptism/WebHelp/The_Meaning_of_Baptizo/chpte10_baptizo_old.htm

[3] Adaptado de http://www.recantodasletras.com.br/artigos/382345.

certamente há outras fontes às quais devo algo, mas não me lembro no momento...

Rev. Maurício de Almeida Soares

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