Páginas

segunda-feira, 31 de dezembro de 2012

TUDO IGUAL? - PAULO CESAR BARUK

ARRANQUE UM OLHO EM 2013


O mês de janeiro tem esse nome em homenagem a um deus da mitologia romana, chamado Janus, que era conhecido por ter duas faces: uma era voltada para trás, para o passado; a outra era voltada para o futuro, para frente. Janus era, assim, a divindade associada às transições. Nesta semana entre o Natal e o ano-novo vivemos novamente uma passagem simbólica do velho para o novo, o ano que se passou e o que está chegando.

A virada do ano é marcada por uma explosão de palavras, emoções, festas e desejos de prosperidade, felicidades, muita paz, muita saúde etc. etc. etc… São chavões e mais chavões a que ninguém parece conseguir resistir. Até entre irmãos na fé vemos essa compulsão de desejar a todos as mesmas “alegrias”.

Mas permita que eu lhe deseje algo completamente diferente. Desejo que você consiga arrancar um olho em 2013. Isso mesmo: que consiga arrancar um olho. Para explicar o que quero dizer, cito as palavras do Nosso Senhor.

Se o seu olho direito o fizer pecar, arranque-o e lance-o fora. É melhor perder uma parte do seu corpo do que ser todo ele lançado no inferno. E se a sua mão direita o fizer pecar, corte- a e lance- a fora. É melhor perder uma parte do seu corpo do que ir todo ele para o inferno.(Mt 5.29)

Ao nos lembrarmos das lutas e das alegrias, das vitórias e das derrotas de 2012, creio que poucos poderão, se forem honestos, lembrar-se do ano sem uma pontada de remorso. Esse não é um pensamento “alto astral”, eu sei. Mas é um fato. Há coisas que preferimos esquecer. Até porque não nos faz bem nos lembrarmos delas. São coisas que dificultaram a nossa caminhada com Deus, que nos levaram a lamentar a nossa condição pecaminosa, coisas que fizemos, falamos ou até pensamos e são indignas de quem se diz discípulo de Cristo.

Essas coisas não podem continuar. Precisamos resistir a elas, estirpá-las da nossa vida. Se deixadas livres e soltas, podem desfazer tudo o que temos por precioso. Objetivamente: são pecados. É certo que vão nos destruir se seguirem livres e desenfreados.

Esses pecados não entram pela pele. Entram por outras vias. Não flutuam no ar, masexistem fora de nós. Afinal, as tentações e os atrativos deste mundo são mediados. Valem-se de veículos para nos alcançar. Por meio de uma avalanche de meios de comunicação se apresentam, se insinuam, chamam e procuram ocupar a nossa mente e se apossar da nossa alma. Fazem com que os nossos ossos adoeçam e com que nos desviemos de uma vida pura e voltada totalmente para aquele que é perfeita luz. É o mundo, com tudo o que esse conceito abrange. É o fascínio mundano. É o mundo de consumo. É o mundo da beleza fascinante. É o mundo do poder. É o mundo da volúpia. É o mundo da celebridade. É o mundo da ganância. É o mundo da vanglória. É o mundo da violência. É o mundo da gula e da bebedice. É o mundo todo que nos invade, como uma onda que nos pega e quer nos levar para o fundo.

Esse mundo só terá poder sobre nós se lograr êxito em achar uma via de entrada. Ou pelos olhos ou pelos ouvidos – o mundo só manifesta o seu poder se lhe damos o direito de entrada. Como nos filmes de vampiro, o vilão só pode entrar pela porta da casa se o dono lhe fizer um convite direto. Após isso, ele entra e mata a vítima com a sua mordida mortal. Do mesmo modo, o mundo só pode nos morder se o convidamos a entrar. E temos feito exatamente isso. Sem nos dar conta do que estamos fazendo, deixamos o mundo invadir nossa vida. Ligamos a televisão e assistimos ao que não convém. Ouvimos as fofocas, lemos as revistas de celebridades, enchemos os nossos olhos com o que é francamente venenoso para a nossa alma. E, no fim, a alma se perde.

Jesus disse que é melhor ficar cego do que perder a alma. É melhor perder o mundo do que perder a alma, que vale mais do que o mundo todo. Qual é o meu desejo para você em 2013? Que feche a porta. Não estenda o convite para o que vai mordê-lo.  Estamos numa transição entre o velho e o novo. É a época do ano em que pensamos nessas coisas. Então, antes que seja tarde, antes que o novo seja apenas a reedição do velho, “arranque um olho” (por assim dizer). Tome uma atitude de desligar algo, cancelar algo, cortar os laços com algo. Pois a sua alma vale mais do que tudo o que você poderá “perder”. Vale muito mais.

Na paz,
+W

quarta-feira, 19 de dezembro de 2012

EM DEFESA DO NATAL



Recentemente tive de ir a um shopping center próximo de minha casa para resolver uma questão. Era por volta de meio-dia e já havia multidões transitando pelos corredores daquele “templo de consumo”. Eu estava distraído e, por isso, não me ocorreu, de imediato, o que estava acontecendo. Subitamente, me dei conta de que estamos no auge do período pré-natalino. Passei por uma estrutura imensa, cheia de luzes e bichinhos de pelúcia. Vi muitas pessoas vestidas de vermelho e branco e, no meio delas, um homem enorme com uma barba branca. A figura é conhecida: o “Papai Noel”. Todos se preparavam para um dia cheio de fotos com as crianças.

Pessoas passavam por mim com as mãos cheias de sacolas. Algumas já estavam cansadas. Outras pareciam realmente contentes, pois tinham conseguido cumprir sua obrigação para com as crianças e os parentes, muitos dos quais estarão na festa natalina da família. “Será que o primo vai comparecer? Também temos de comprar algo para ele”. É a preocupação de muitos – não deixar ninguém de fora, para não fazer feio.

Todo ano surgem as mesmas discussões. As revistas seculares fazem uma reportagem sobre o Jesus histórico. Será que ele realmente existiu? Vão aproveitar a época para fazer aquelas ponderações tão insólitas e repetitivas. Enquanto Hollywood lança uma enxurrada de novos filmes para as crianças, celebrando e lembrando o “espírito do Natal”, nós – os cidadãos deste país tropical – decoramos casas e lojas com imagens de neve, trenós e um homem corpulento e barbudo, vestido de modo adequado para os cantos congelados do hemisfério norte.

Como blogueiro e líder cristão, sou repetidamente interpelado sobre a legitimidade da celebração do Natal. Acontece todo ano. Cristãos citam o fato de a árvore ser um símbolo de uma seita pagã europeia. Lembram que, como cristãos, temos de enfatizar Cristo como a razão do Natal, se bem que ele provavelmente nasceu em agosto. Então, alguns mais estudiosos lembram que a Igreja cooptou a celebração do Sol Invictus, substituindo-a com a celebração do nascimento de Jesus. Alguns até me lembram que Papai Noel, historicamente, se vestia de marrom e só passou a usar vermelho e branco quando a Coca-Cola lançou uma campanha, na primeira metade do século passado, com as cores da sua logomarca.

O ex-presidente John Kennedy disse algo que cabe lembrar: “Queremos que as coisas sejam sempre iguais, mas a História não permite”. O que passou, passou. Não há como reescrever a História da Igreja. Natal virou isso e é assim que vai ser lembrado pela maioria.

O que podemos fazer é uma celebração natalina a mais cristã possível. Digo “possível” porque o circo pegou fogo mesmo e temos de achar uma saída para esta confusão, se é que realmente queremos honrar Deus no meio desta que se tornou uma festa cristo-pagã.

Na minha casa não pomos uma árvore. A verdade é que a decoramos com a coleção de presépios que minha esposa vem juntando há anos. Não trocamos mais presentes (pelo menos não durante o Natal). Temos nos afastado do que praticávamos no passado. Sim, já fiz muitos natais com uma enorme árvore no meio da minha sala, cercada de presentes. Mas Natal se tornou algo mais devocional e precioso para mim e para a minha família.

Na véspera do Natal, nós nos reunimos. A alegria do Senhor enche os nossos corações por estarmos juntos. Após a troca de abraços e palavras de carinho, sentamos. Cantamos hinos de Natal. Não cantamos Toca o sino pequenino, mas canções que a nossa igreja procura trazer de volta ao culto durante o período do Advento (os quatro domingos que antecedem o dia do Natal). Cantamos Noite de Paz; Ó, Vinde, Fiéis e tantos outros que o mundo tirou da Igreja e que tocam no sistema de som do shopping local sem que ninguém saiba do que se trata.

Então, após o nosso louvor, lemos uma das passagens bíblicas que relatam o nascimento do Nosso Senhor. Falamos, cada um, da nossa gratidão a Deus e oramos. É um momento de profunda comoção. É precioso. Depois nos sentamos à mesa e ceamos.

“E as crianças?” Alguém pode até protestar. “Será que elas não “merecem” um Natal de verdade?”.

A resposta é “sim, exatamente”. Quanto mais cedo aprenderem a comemorar o Natal como cristãos, mais cedo aprenderão a não viver como vassalos deste mercado de consumo, a valorizar essa celebração pelo que deveria ser – um período de devoção, gratidão e evangelismo. Dou graças a Deus por meu filho John e a sua esposa, Raquel, que não deixarão meu neto, João Felipe, crescer com a cabeça confundida pela mistura avassaladora da fé em Deus com a fé no consumo.

Não repudio o Natal. Pelo contrário, é uma festa preciosa, que celebramos com amor a Deus e profunda gratidão pelo Salvador, Emanuel – Deus conosco.

Feliz Natal,
+W

JESUS É POP: ENTRE O SACRILÉGIO E O MAU GOSTO


Nós, seres humanos, somos emblemáticos. Isso significa que temos o costume de nos cercar de símbolos que refletem os nossos valores, as nossas experiências e, principalmente, a nossa identidade. Cada tribo tem seus indicadores próprios, que apontam seus integrantes. Cada profissão, clube, credo e fase da vida é prontamente identificada por roupas, adesivos, camisetas, tatuagens e uma pletora de produtos, códigos, estilos e palavras. Os surfistas se apresentam como “brothers”, os militantes de esquerda como “companheiros” e os crentes em Jesus como “irmãos” ou “amados”.

Como evangélicos, fomos pioneiros no hábito de identificar até os nossos automóveis como pertencentes aos crentes. Sim, pois já faz muitos anos que começamos a pôr adesivos nos para-choques e para-brisas. Um hábito que parecia ser mais do mundo dos caminhoneiros passou a ser praticado por todo novo convertido, com o intuito de se identificar como tal. Cristo é meu copiloto; Tudo é força, só Deus é poder; e até o insólito Sou crente dizimista e daí? são adesivos que todos já viram, se não inúmeras vezes, com certeza pelo menos uma vez na vida. Se não fosse o bastante, fizemos escola: agora os católicos adotaram nosso hábito, com adesivos de Nossa Senhora, e até os espíritas têm os seus, como os de São Jorge e os que partem em defesa da reencarnação.

Mas, entre os evangélicos, cada evento, cada campanha e cada aniversário de igreja parece acabar numa camiseta. Já ganhei de presente mais peças de roupa de igrejas aniversariando do que queira me lembrar. Tenho uma pilha, não tenho coragem de me desfazer delas – pois sei o que representam para os que as confeccionaram.

Tenho falado sobre a comodificação da fé (isto é, a transformação dos nossos símbolos em bens de consumo) e a sua inevitável banalização. Não vou repetir os argumentos que já se encontram no meu livro, O Fim de Uma Era. Mas recentemente tenho me deparado com uma nova forma dessa manifestação, supostamente cristã. Só que de cristã não tem nada. Seguindo a linha da cantora Madonna, a nova versão desse tipo de artista, a Lady Gaga, tem usado e abusado de motivos sacros em suas roupas e nos símbolos dos quais se cerca. Tanto a primeira quanto a última praticam uma antiga forma de sacrilégio. Literalmente escracham os símbolos do sagrado. É sua forma de tentar chocar, agredir e se promover. Pois vale o ditado “falem mal mas falem de mim”.

A fama a qualquer preço é o alvo. E nada mais fácil do que apelar para a galera dos revoltados e dos irreverentes. Quem faz isso ainda consegue gerar uma espécie de prazer torpe nos rebeldes de carteirinha. Essa linha de sacrilégio tira do contexto o que é sacro e o perverte. Como pendurar uma cruz no pescoço de um porco ou no de uma mulher nua. Ainda choca. E isso não é fácil. Pois os tabus de outrora já não chocam mais. Temos nos tornado uma cultura bastante calejada. Essa atitude, no entanto, parece ainda preservar um quê de escândalo. E basta um gesto de censura que as tribos pagãs ficam em polvorosa e se lançam em cruzadas contra os “crentes retrógrados” e os seus “representantes hipócritas”, o clero.

Como assisti a esse fenômeno a vida inteira, não me choco mais. É o que é. Especialmente no mundo do entretenimento e das artes, de modo geral, o mundo moderno consegue sustentar um ar de sofisticação denigrindo os símbolos históricos da fé cristã.

Mas o que me choca, de uns tempos para cá, é que os fiéis têm lançado mão dos símbolos cristãos numa escala tão larga e com um mau gosto tão berrante que não consigo mais discernir entre o sacrilégio dos pagãos e o mau gosto dos fiéis. Tenho de olhar duas vezes. Tenho de me perguntar se o cristão que fez aquela camiseta possui uma noção mínima do que realmente é sagrado ou não. Temos nos misturado com os que se deleitam no sacrilégio, por meio da banalização.

Sei que gosto não se discute. Mas posso lamentar o profundo mau gosto de pessoas que não têm a menor noção do quanto estão banalizando o que é realmente importante. Estampar o rosto de Jesus na cruz em uma camiseta é realmente algo que não entendo. Pegar a logomarca de um produto popular e substituir as letras com algo “cristão” é nos pôr no meio do caldo mercantilista mundano. Prefiro usar uma camiseta com uma onda ou o nome de uma loja do que uma que diz Jesus Cristo: isto é o que é. Parece uma piada de mau gosto. É lamentável que, para os que criam esses produtos, a única motivação seja o lucro – faturar às custas de crentes desavisados e com o desejo sincero de tentar cercar suas vidas com algo que exprima a sua devoção.

Difícil discutir isso, não? Então, por hoje, vou me limitar a lamentar o fato.

Na paz,
+W

A ALMA SECA E SEDENTA


O salmo 42 começa com a seguinte frase: “Como a corça anseia por águas correntes, a minha alma anseia por ti, ó Deus. A minha alma tem sede de Deus, do Deus vivo. Quando poderei entrar para apresentar-me a Deus?” Esse salmo não foi escrito por Davi. Ao longo dele, seus autores – os coraítas – repetem: “Por que está assim tão perturbada dentro de mim? Ponha a sua esperança em Deus!”

Estou vivo há mais de cinco décadas. Alguns protestam que ainda sou jovem. Claro que, se Deus assim permitir, tenho ainda muitos anos de vida pela frente. Mas, de uns pouquíssimos anos para cá, tenho me tocado do quanto a vida me deu quando eu era jovem e, inversamente, o quanto a vida vem tirando de mim ao passar de cada ano. Saúde, força, amigos, um certo vigor e outras coisas já não são mais os mesmos. Talvez seja meu jeito melancólico, mas tenho parado e pensado, cada vez mais, sobre como esta vida é um processo de perdas e ganhos, de realizações e frustrações. Quem tem menos de trinta anos não vai entender esse sentimento. Creio que os que têm mais de cinquenta já estão suspirando em concordância.

Numa sociedade que protesta a sua absoluta e constante necessidade de ser original e viver fora dos padrões, é irônico o quanto somos todos tão típicos, previsíveis e “normais”. Quando jovens há tantas coisas que desejamos! Queremos achar o nosso rumo na vida. Queremos ser relevantes. Queremos ser felizes. Queremos uma chance. Queremos que alguém nos leve a sério. Queremos ser amados do jeitinho que somos. Queremos velocidade. Queremos emoções fortes. Queremos barulho, agitação e novidades. Queremos um futuro.

Pouco a frente, passamos a querer outras coisas. Queremos filhos. Queremos transcendência. Queremos respeito. Queremos resolver, e já, as coisas que não funcionam. Queremos que os nossos pais entendam que não somos mais crianças. Queremos que os vizinhos sejam menos barulhentos. Queremos um aumento e uma promoção. Queremos uma boa escola para os filhos e que eles sejam bons alunos. Queremos que nossos filhos não se machuquem. Queremos um rota para o trabalho que não tenha tanto engarrafamento. Queremos um chefe menos difícil. Queremos menos impostos.

Passam mais alguns anos e o que queríamos tivemos, mas estamos começando a perder. Queríamos não ter confiado tanto no amigo que nos traiu. Queríamos não ter sido tão preguiçosos ou irresponsáveis, quando jovens, pois a saúde podia ser melhor do que é. Queríamos ter aprendido espanhol. Queríamos um lugar para morar com menos barulho. Queríamos que os motoristas de ônibus fossem mais gentis. Queríamos que os carros no nosso retrovisor fossem menos apressados, e os que estão à nossa frente fossem menos lentos. Queríamos ter visto o Monte Everest. Queríamos sentir a mesma alegria com as pequenas coisas que sentíamos. Queríamos um plano de saúde mais compreensivo e menos caro. Queríamos poder acreditar em algo. Queríamos que os joelhos não doessem ao sair da cama pela manhã. Queríamos ser tão belos e fortes como fomos “nos velhos tempos”. E ainda queremos ser amados por quem somos. Queremos um sorriso do netinho – ah, isso queremos. Queremos que o nosso ombro pare de doer. Queremos que alguém nos diga que todo este esforço, todo o nosso sacrifício e todas as noites mal dormidas não foram em vão.

Então um dia paramos. Descobrimos que nem tudo o que queremos teremos. A alma se angustia. Oportunidades perdidas, assim como amigos, saúde e o encanto com a vida. E amanhã? Como será? O que antes era algo tão fácil, agora nos dá um certo medo – pegar um avião, enfrentar um desafio, até mesmo atravessar a rua.

Não estou velho. Mas estou chegando lá. E o que me ocorre hoje é que, ao longo da minha vida, sempre houve razões para me angustiar. Isso é certo – uma constante na minha e na sua vida. Os coraítas nos lembram: “Ponha a sua esperança em Deus”.

Sim, o que a alma realmente precisa é de Deus. Só Ele preenche o vazio. Só Ele consola verdadeiramente. Isso não é um chavão, é um fato. Preciso de um toque real do Deus vivo. Algo que mantenha viva a minha alma. Ah! Quantas vezes já estive num sepultamento e alguém chegou para dizer “há males que vêm para o bem”? Dá vontade de dar um tapa na cara desse tão bem-intencionado tolo. Palavras nem sempre ajudam. A alma não precisa ser informada. A alma não precisa de mais informação. Não vai ser uma frase bem bolada noTwitter que vai me animar. A alma tem sede de Deus. Precisa da sua inexplicável e incomparável presença.

Feliz é aquele que entende que o seu problema não é a falta de uma promoção. Feliz é aquele que compreende que não achará profunda paz no nascimento de um filho. Coisas como essas não são más. Certamente são boas. Mas, mesmo as alcançando, sua alma ainda terá sede do que realmente é vital.

Feliz é aquele que não acha que essa perda representa o fim da vida. Feliz é aquele que não se gasta com lamúrias pelos bons e velhos tempos. Feliz é aquele que não tenta perpetuar o que inexoravelmente vai definhar com o passar dos anos.
Dizem que o corpo humano pode sobreviver muitos dias sem comida. Mas sem água não. Sede fala de uma necessidade de primeira ordem. Deus é a nossa maior e constante necessidade. Sem Ele a alma se angustia. Todas as necessidades menores gritam por atenção, a ponto de acharmos que são elas as que realmente importam. Mas, de todas, só uma realmente é vital. Sem Deus, sem beber da fonte, a alma seca, a vida seca e nos tornamos ossos em movimento.

Ó, vem, Senhor, e preenche-me de Ti. Só em Ti acho repouso para a minha alma.

Na paz,
+W

terça-feira, 18 de dezembro de 2012

IPCN - RETIRO 2013


As inscrições podem ser feitas na secretaria da igreja. O custo da taxa é R$100, para crianças de 6 a 10 anos R$50 e até 5 anos não pagam.

domingo, 2 de dezembro de 2012

QUEM É CULPADO PELA IGREJA?

Esta palavra do Senhor veio a mim: “Que é que vocês querem dizer quando citam este provérbio sobre Israel: ‘Os pais comem uvas verdes, e os dentes dos filhos se embotam’? Juro pela minha vida, palavra do Soberano Senhor, que vocês não citarão mais esse provérbio em Israel. Pois todos me pertencem. Tanto o pai como o filho me pertencem. Aquele que pecar é que morrerá.” (Ez 18.1-5)

Tenho visto reações variadas e surpreendentes às minhas reflexões desde o lançamento de meu primeiro livro, O Fim de Uma Era, até o post mais recente deste blog. Uns aplaudem, outros discordam, outros me desmerecem e questionam meus motivos. Há ainda os que lançam culpa uns sobre os outros. Tenho falado sobre o estado calamitoso da Igreja dos nossos dias. E, afinal, quem não tem discorrido sobre este tema tão atual e que nos causa tanto sofrimento? Todos têm opiniões formadas sobre o que há de errado com a Igreja e, a partir delas, tecem suas teorias sobre o que nos aconteceu e por que estamos tão distantes do ideal.

Eu lamento que poucos ponderam soluções e se questionam sobre a própria contribuição à confusão que se instaurou. Tenho tentado defender algumas. Mas a maioria se detém na crítica ou parte para apontar os responsáveis por essa tragédia. Muitos acusam os pastores de serem os causadores do mal. “São uns interesseiros”, dizem uns. “São um bando de imprestáveis”, outros se aventuram a denunciar. Já os pastores que conheço lamentam a falta de qualquer tipo de espiritualidade no seu povo, mesmo sendo eles homens íntegros e de oração. Quem sabe o problema não se acha na política eclesiástica? Quem sabe não são as estruturas que nos levam a agir da maneira que agimos?

Creio que o problema é mais simples do que esse. Nós – você e eu – não temos posto em prática as Escrituras. Temos deixado que a nossa espiritualidade viva a reboque do que outros fazem ou fizeram. Claro que há fatores que nos levam a agir assim. Claro que os líderes têm uma parcela de culpa. Mas é igualmente claro que o problema sistêmico que se apoderou da Igreja vem se avolumando ao longo de décadas. Nossos pais e os pais dos nossos pais, assim como nós, foram herdeiros de legados mistos. Legados que passaram de geração a geração coisas boas ou ruins. Pela omissão de alguns dos nossos ancestrais, sim. Pelos pecados de comissão, também, sem dúvida. Mas, podemos realmente dizer que somos as vítimas da história? Eu certamente não vou lançar a “primeira pedra”. Estou no ministério já faz 31 anos. Tenho a minha parcela de culpa. Assumo os meus erros e tenho a clareza de que não sabia o que sei hoje quando comecei. Sei ainda mais: que ainda tenho demais para aprender. E com essa certeza clamo a Deus para que eu possa contribuir para uma solução. Pois ficar paralisado num caldo de análise coletiva não vai nos tirar do atoleiro no qual nos achamos.

Sim, cada um terá de olhar para si e entender que o problema é do coração. Podemos muito bem reclamar de líderes, tal qual Saul, que foi destituído do trono de Israel por Deus devido a seu procedimento. Mas o seu sucessor, Davi, não revidou – embora Saul estivesse resolvido a matá-lo. Ele foi um bom discípulo, mesmo que o seu mestre tenha sido um desqualificado. De igual modo, Samuel pôde ouvir a voz de Deus e ser preparado para um ministério profético extraordinário, embora o seu mestre, Eli, estivesse em franca desobediência a Deus, junto com os seus filhos – que perverteram e praticaram abominações dentro do próprio templo.

É certo que precisamos entender o que nos aconteceu. Mas apontar culpados não ajuda. Temos de olhar para o nosso próprio coração. Cada pastor, cada membro, cada fiel precisa dobrar o seu próprio joelho perante o trono da graça e pedir perdão. Cada um tem de abrir novamente as Escrituras e ser fiel no pouco. Cada um de nós, a partir de agora, ou faz parte da solução ou faz parte do problema.

Aquele que ouve a palavra, mas não a põe em prática, é semelhante a um homem que olha a sua face num espelho. (Tg 1.23).

Enquanto muitos estão usando a Bíblia como espelho retrovisor, creio que ela foi escrita para que fosse um espelho pessoal. Está mais do que na hora de nos enxergarmos a nós mesmos e fazer algo a respeito daquilo que vemos. Quanto a mim, estou tentando. Sim, estou tentando.

Na paz,
+W


LEI, GRAÇA E LEGALISMO?


sábado, 24 de novembro de 2012

GRITANDO CONTRA O VENDAVAL


Já se viu em meio a um vendaval na companhia de alguém? Eu já. Foi no inverno carioca de 2011. Certa noite fazia muito frio e os ventos estavam fortíssimos. Eu e um de meus filhos, Andrew, decidimos brincar para ver quem aguentaria por mais tempo ficar no vento e no frio sem ter que voltar para dentro de casa. Saímos para a varanda do meu quarto, ele de um lado e eu do outro. Andrew estava mais próximo da fonte do vento e, por isso, me vi completamente frustrado ao tentar falar com ele. Sim, pois, embora estivesse ao meu lado, ele não conseguia me ouvir, o vento não permitia. As ondas sonoras que saíam de minha boca simplesmente eram rebatidas. Foi divertido. Mas aquela noite alegre me faz lembrar de algo que não me alegra. Pelo contrário, é algo que me frustra tremendamente.

Tenho procurado alertar a Igreja sobre práticas e conceitos que estão fazendo com que sua alma definhe. A Igreja está doente. Seus membros, muitos deles, simplesmente não são cristãos. Seu louvor é superficial. Seu culto se limita ao momento da reunião pública. Quando vão para o altar, não levam corações cheios de devoção. Sua vida não é piedosa – ou seja, não é uma vida cheia da noção da presença de Deus. É uma vida entregue às paixões que inflamam todos. Seus sonhos de consumo, seus amores secretos, seus interesses mundanos e o seu prazer tão bem guardado se acha nas coisas que se contrapõem à vida espiritual. Entretêm-se com o mal. Agradam-se de assistir a filmes e novelas onde imoralidade, sexo ilícito, violência e opressão dos fracos desfilam pela tela para o deleite dos espectadores. Deixam que o seu sangue ferva com a violência de uma boa briga, seja uma luta de vale tudo ou um filme de ação. Contorcem-se com risadas quando ouvem piadas chulas. Têm prazer em contemplar a indecência alheia (sim, “porque ninguém é de ferro”, dizem).

Então se arrastam para  a Igreja, atrasados, de ressaca mundana, com as mentes transbordando de imundícies e sonhos de riqueza e vingança. E cantam…. cantam as músicas que tão eloquentemente expressam sua forma de falso cristianismo: “Restitui”, “esta é uma festa de virada”, “vou profetizar a minha vitória” e por aí vai.

Amigos do mundo e inimigos de Deus, empanturrados de paixões que não saciam a alma, dizem que o culto “foi uma benção”. Defendem as suas músicas prediletas porque “os abençoou”. Curtem a última mensagem de prosperidade, porque o pregador “é uma benção”. E, no fundo, não fazem a menor ideia do que seja ou não uma verdadeira bênção espiritual. Prostituem esse conceito bíblico para expressar o seu prazer no que seja. Como bêbados que mandam beijos e assoviam para a garçonete num bar, embriagados pelo mundo cantam de mãos levantadas – e até com lágrimas – cantigas que mais parecem música americana enlatada, mas que nem de longe afirmam as velhas verdades da fé cristã.

Denuncio suas músicas esotéricas. Repudio seus cultos falazes. Sugiro que seus mentores são os anticristos que João denunciou na sua primeira carta. Mas a onda populista e mundana que varre a Igreja dos nossos dias lembra-me aquele vento. O vento que rechaça a minha voz. O vento que faz com que eu sinta que ninguém esteja ouvindo, embora, por forçar meu grito, eu esteja até ficando rouco.

Há outras vozes. São a minoria. Há homens e mulheres de fé, tanto os que deixaram sua voz em livros que muitos nem se dão mais ao trabalho de ler quanto os que envergam as vias mais avançadas da nossa atual tecnologia de comunicações.

A Igreja está sendo varrida. É um vendaval de mundanismo, triunfalismo e populismo. É um vendaval de sucesso numérico. Os anjos choram. As paredes das veneráveis catedrais desmoronam. O inimigo acha que nos derrotou. Mas não é verdade. Há um remanescente. E, no fim, todo joelho se dobrará e toda língua confessará que Jesus Cristo é o Senhor. Para alguns será um dia glorioso. Para a maioria, inclusive a supostamente cristã, será um dia aterrorizante. Dirão… bem… melhor deixar o próprio Senhor contar como será:

“Entrem pela porta estreita, pois larga é a porta e amplo o caminho que leva à perdição, e são muitos os que entram por ela. Como é estreita a porta, e apertado o caminho que leva à vida! São poucos os que a encontram. Cuidado com os falsos profetas. Eles vêm a vocês vestidos de peles de ovelhas, mas por dentro são lobos devoradores. Vocês os reconhecerão por seus frutos. Pode alguém colher uvas de um espinheiro ou figos de ervas daninhas?

Semelhantemente, toda árvore boa dá frutos bons, mas a árvore ruim dá frutos ruins. A árvore boa não pode dar frutos ruins, nem a árvore ruim pode dar frutos bons. Toda árvore que não produz bons frutos é cortada e lançada ao fogo. Assim, pelos seus frutos vocês os reconhecerão! Nem todo aquele que me diz: ‘Senhor, Senhor’, entrará no Reino dos céus, mas apenas aquele que faz a vontade de meu Pai que está nos céus. Muitos me dirão naquele dia: ‘Senhor, Senhor, não profetizamos nós em teu nome? Em teu nome não expulsamos demônios e não realizamos muitos milagres? ’ Então eu lhes direi claramente: ‘Nunca os conheci. Afastem-se de mim vocês, que praticam o mal! ’

Portanto, quem ouve estas minhas palavras e as pratica é como um homem prudente que construiu a sua casa sobre a rocha. Caiu a chuva, transbordaram os rios, sopraram os ventos e deram contra aquela casa, e ela não caiu, porque tinha seu alicerces na rocha. Mas quem ouve estas minhas palavras e não as pratica é como um insensato que construiu a sua casa sobre a areia. Caiu a chuva, transbordaram os rios, sopraram os ventos e deram contra aquela casa, e ela caiu. E foi grande a sua queda”. (Mt 7.13-27)

Ó Deus, tem misericórdia de nós. Eu sinto o cheiro de chuva no ar e tremo.

Na paz,
+W

quinta-feira, 22 de novembro de 2012

terça-feira, 13 de novembro de 2012

A ORAÇÃO DO DIVÓRCIO - PR. CLAUDIO DUARTE


PORQUE NÃO GUARDAMOS O SÁBADO?


FONTE: http://www.waltermcalister.com.br/site/porque-nao-guardamos-o-sabado/

Estudos Sobre o Batismo (parte 2) - Significado dos Termos no Grego Judaico




INTRODUÇÃO:

Estamos neste estudo respondendo à pergunta: Batizar é imergir?

Já vimos que no grego clássico a resposta é não. E vimos também que mesmo que o fosse isso não afetaria o sentido da palavra no NT, pois há várias palavras que receberam conotação diferente no NT do que tinham no grego de então: a palavra Logos e sarx (carne), são bons exemplos disso.

A palavra ceia, também recebeu novo sentido no NT. “Ceia”, nos tempos de Jesus, designava uma refeição completa, jamais significa comer um pedacinho de pão e beber um gole de vinho. Aqueles que “implicam” com o batismo com pouca água, por causa do sentido da palavra, deveriam também rever a celebração da ceia.

Charles Hodge, relacionando batismo e ceia, diz:
“Simplesmente, acreditamos que o modo de administrar o batismo é de importância relativa. Ou seja, não achamos que a validade dessa ordenança dependa da quantidade de água empregada ou do modo como a água é aplicada. 

Da mesma forma, a validade do outro sacramento – santa ceia – não depende do modo de administrá-lo.Supomos que todos aceitam essa maneira de ver a questão, pois se pode receber a santa ceia de pé, sentado, ajoelhado ou deitado; ao mesmo tempo em que se celebra um ágape [festa de fraternidade] ou não; na casa de um enfermo, na igreja ou no bosque; com mais ou menos pão ou com mais ou menos vinho.

Na verdade, não foi estabelecido um modo definido para celebrar a ceia do Senhor. Porém, o fato é que, segundo cremos, não há uma única denominação cristã que pretenda celebrá-la exatamente como o Senhor a instituiu. 

Por que, então, o modo deve ser tão importante quando se trata do batismo? Essa pergunta não tem resposta satisfatória. O modo de celebrar o batismo é, relativamente, de pouca importância. Há questões de muito maior relevância às quais devem dedicar-se os cristãos” [1]

Vejamos, agora, o uso das palavras bapto e baptizo, no “grego judaico”, que é o que realmente importa para se definir o significado delas no NT, uma vez que os autores do mesmo eram judeus.

O SIGNIFICADO DE BATISMO NO “GREGO JUDAICO”:

Se quisermos entender o significado de uma palavra no NT, temos que verificar o uso dela na LXX (Septuaginta – tradução do AT para o grego – esta foi a Bíblia usada pelos autores do NT), bem como verificar o uso da mesma no Novo Testamento.

Pois bem, perguntamos: Batismo no “grego judaico” e no NT significa exclusivamente imergir? Respondemos: Definitivamente não!

Agora temos que tratar de provar a afirmação feita acima:

Vejamos o uso de bapto e baptizo na Septuaginta e nos apócrifos judaicos.

1 – Na LXX, em Daniel 4.25, é dito que “Nabucodonosor foi batizado [bapto] com o orvalho do Céu”. Claramente esse batismo não foi por imersão; mas o sentido da palavra batismo no texto é que o orvalho caiu sobre ele.

2 – No livro apócrifo de Judite, no capítulo 12, verso 7, é dito que Judite todas as noites ia a uma fonte e se batizava (baptizo).
                Se baptizo significa sempre imergir, então o autor está querendo dizer que ela mergulhava na fonte. Se porém o sentido da palavra pode ser purificar ou lavar, então o texto apenas está dizendo que ela fazia suas abluções na fonte; e estas abluções, purificações cerimoniais, eram feitas por aspersão, como veremos adiante.
A fonte estava dentro dos limites do arraial para o uso de um exército de imensas proporções (exército inimigo). Um acampamento cheio de soldados inimigos não é um lugar próprio para uma mulher se banhar, ainda mais de noite.

3 – Em Levítico 14.6 é dito: “Tomará a ave viva, e o pau de cedro, e o estofo carmesim, e o hissopo e os molhará no sangue da ave que foi imolada sobre as águas correntes”. Na LXX a palavra traduzida por “molhar” é bapto. O texto diz, então, que uma ave viva, o pau de cedro e o estofo carmesim, deveriam ser batizados no sangue da ave que foi imolada.

É obvio que o sentido de bapto no texto não é imergir, porque é impossível imergir todas estas coisas no sangue de uma única ave.

Logo, temos aqui mais um exemplo do uso de bapto com um sentido de molhar e não de submergir.

4 – Na LXX, mesmo quando bapto significa submergir, não significa submersão completa (cfm. Lv 4.17, Rt 2.14, Js 3.15, 1Sm 14.27, Sl 68.23).

5 – O livro apócrifo de Eclesiástico, escrito em cerca de 150 a.C, deixa claro que a palavra baptizo era usada para descrever a purificação por aspersão. O texto diz: “Se aquele que se lava [batiza] após ter tocado num morto, torna a tocá-lo, de que lhe serve ter-se lavado [batizado]?”. Um irmão batista argumentaria agora que o batismo a que o texto se refere poderia ser por imersão. Contudo, o autor era judeu e ele estava fazendo referência à cerimônia de purificação ordenada na lei para o caso em que um homem tocasse no corpo de algum morto, e esta purificação era feita por aspersão, conforme se vê em Nm 19.13: “Todo aquele que tocar em algum morto (...) e não se purificar (...) será eliminado de Israel; porque a água purificadora não foi aspergida sobre ele, imundo será; está nele ainda a sua imundícia.” (veja também os versos 9, 11-12, 19 e 20).

O sentido do texto de Eclesiástico, então, é: “Se aquele que se asperge [batiza] após ter tocado num morto, torna a tocá-lo, de que lhe serve ter-se aspergido [batizado]?”.

6 – Os judeus, conforme vimos, usavam a palavra batismo para se referir às purificações por aspersão ordenadas no AT. Que estas purificações eram por aspersão, fica claro, além do que já foi mostrado acima (Nm 19), pelos seguintes textos: Ex 30.18-21; 2Cr 4.6; 1Rs 7.27-39. Estes dizem que as mãos e pés dos sacerdotes eram purificadas por água da bacia de bronze, da qual ela era derramada por meio de torneiras.

Portanto, batismo é sinônimo de purificação, a qual era por aspersão.


CONCLUSÃO:

            Respondendo à pergunta: No grego judaico batizar é imergir? Afirmamos que não.

Bapto e baptizo eram usados pelos judeus também no sentido de molhar e aspergir; e mais importante ainda, eram usados para se referir às purificações por aspersão no AT, purificações estas que são os antecedentes do batismo no NT.

            Quando Jesus ordena o batismo, ele o faz num contexto em que o termo era usado no sentido de aspergir ou derramar pelos judeus. E o Cristo, no entanto, não alterou o significado do vocábulo e não ordenou que tal batismo deveria ser por imersão. Isso só tem uma explicação: O próprio Cristo jamais pensou que o batismo deveria ser por imersão, mas por aspersão, conforme a prática e uso comum entre os judeus.

            Querer impor o batismo por imersão como a condiçãosine qua non para que o mesmo seja válido é fazer o cristianismo mais farisaico do que os fariseus jamais sonharam; pois estes faziam seus batismos por aspersão, sem problema algum.


No próximo estudo veremos o uso que os autores do NT fazem dos termos em questão.



BIBLIOGRAFIA

[1] Charles Hodge, O Batismo Cristão: Imersão ou Aspersão? (Editora Cultura Cristã)   

Outras fontes utilizadas neste estudo:

Charles Hodge, Teologia Sistemática (Editora Hagnos)

A. A. Hodge, Confissão de Fé de Westminster Comentada (Editora Os Puritanos)

LXX (Septuaginta): Programa Bible Works

Rev. Maurício de Almeida Soares


quinta-feira, 8 de novembro de 2012

Estudos Sobre o Batismo (parte 1) - Significado dos Termos no Grego Clássico



INTRODUÇÃO

Este estudo é parte de uma série sobre a forma do batismo. A perspectiva do mesmo é a de uma defesa do batismo por aspersão. Nosso propósito não é polemizar ou ofender algum irmão que tenha pensamento diferente, mas dar a todos os que nos pedirem, uma razão da nossa fé.

Muitas vezes os imersionistas nos acusam de praticar um batismo não bíblico. Como entendemos que a forma de batismo é secundária, não damos muita ênfase à questão. Isso, às vezes, parece dar a impressão de que não estamos seguros da nossa posição, e que não podemos defendê-la pela Bíblia. Este estudo é uma resposta às acusações que sofremos.

É importante ressaltar que a Bíblia apenas ordena que se batize em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo, sem estabelecer nenhuma forma específica. Toda a discussão, portanto, gira em torno do significado da palavra batismo. O argumento mais conhecido dos imersionistas, especialmente os batistas, é que batizar é imergir, e imergir é batizar. Vamos, então, estudar o significado dos termos bapto e baptizo no grego clássico e no grego judaico para demonstrar que a questão não é tão simples como querem fazer parecer os imersionistas.

SIGNIFICADO DOS TERMOS NO GREGO CLÁSSICO:

Os batistas têm, historicamente, insistido que no grego clássico Bapto e baptizo significam imergir e que, portanto, quando Jesus ordenou que batizássemos os discípulos, ele ordenou que os imergíssemos. Eles estão tão certos de que a ordem é para imergir, que, alguns estudiosos batistas, chegam a ensinar que se não for possível imergir em água, deve-se imergir em areia.

Contudo, verificaremos que estes termos não significam exclusivamente imergir na literatura clássica.

O estudioso James W. Dale [1], em seu livro Classic Baptism, faz um extenso estudo do uso das palavras no grego clássico e dá vários exemplos em que são empregadas com outros sentidos que não imergir; eis apenas alguns [2]:

A água, quando é derramada sobre o vinho o batiza.
Sangue derramado sobre um lago o batiza (tinge)
Fala-se de alguém que batizou (tingiu) o cabelo
Um ator grego, segundo Aristófanes, batizava o seu rosto com a borra do vinho para pintá-lo
Um homem bêbado é um homem batizado (intoxicado ou sob a influencia do vinho)
Um homem que usou alguma droga foi batizado por ela
Um homem que bebe na fonte da Silenius se torna um homem batizado
Um homem envenenado foi batizado com o veneno
Uma pessoa preocupada com problemas, foi batizada por eles
            Plutarco fala de um homem que tendo imolado um inimigo ficou com as mãos batizadas com o seu sangue

            Em nenhum destes e de muitos outros casos, o sentido é de imersão. Seria absurdo traduzir cada um destes exemplos como imergir.

No grego clássico a palavra é usada em mais de cem sentidos diferentes. Para citar apenas alguns: tingir, morrer, intoxicar, envenenar, embriagar, sofrer um choque psicológico, estar oprimido pelo mal, pela raiva ou infortúnios, estar deprimido, sobregarregado, estar com sono, ser muito afetado por um evento, estar incapacitado, estar debilitado etc.

           O Dr. Dale define assim o termo batizar: "Tudo o que é capaz de mudar completamente o caráter, estado ou condição de qualquer objeto, é capaz de batizar esse objeto; e é por essa mudança de caráter, estado ou condição que de fato o batiza"

O significado da raiz da palavra grega sugerida por muitos estudiosos da Bíblia, é a "identificação", e não “submersão”. Nos exemplos dados acima, fica clara a ideia de identificação.

Contudo, vamos imaginar um cenário irreal, em que as palavras bapto e baptizo realmente significassem exclusivamente imergir (o que, conforme vimos, não é verdade); ainda teríamos um sério problema em estabelecer a forma de batismo por meio do uso destas palavras, pois em vários exemplos do uso no grego clássico, em que elas significam imersão, não significam submergir totalmente: há por exemplo no grego clássico o relato de soldados que foram batizados (imersos) até os peitos num brejo.

Mesmo que Jesus quisesse dizer, quando ordenou o batismo, que praticássemos a imersão, não significaria, pelo significado da palavra, que deveríamos imergir todo o corpo. Será que não significaria para imergir apenas o dedo? Ou os pés? Ou imergir o candidato só até o peito (como os soldados)?

E mais, pelo uso da palavra no grego clássico, Jesus poderia estar ordenando que o candidato bebesse a água, ao invés de ser imerso nela (como no caso de quem era batizado por beber um veneno ou a água da fonte de Silene), ou que a mesma fosse aplicada apenas ao seu rosto, como fazia o ator com a borra do vinho. Vê-se que pelo significado da palavra no grego clássico nada pode ser estabelecido quanto à forma do batismo.

Outro problema com a tentativa de estabelecer a imersão, como única forma de batismo, por meio do uso dos termos bapto e baptizo no grego clássico, é que o Novo Testamento não foi escrito em grego clássico, mas no grego koinê, o grego helenístico, a “linguagem do mercado”. Este grego é muito diferente do clássico, muito mais do que o português do Brasil e de Portugal. Como as palavras mudam de sentido com o tempo, no português do Brasil e Portugal algumas palavras tem significados opostos [3]:

“Durex” no Brasil é fita adesiva, em Portugal é “preservativo”;
Se você quiser pedir uma “calcinha feminina” numa loja em Portugal terá que pedir uma “cueca”;
Se quiser ir ao “banheiro” terá que perguntar onde fica o “salva-vidas”;
Se vir um grupo de crianças pode dizer sem medo que são “canalhas”;
E por aí vai. As diferenças entre o grego clássico e o Koiné (o grego usado pelos judeus e pelos povos não-gregos do Império Romano nos dias de Jesus, no qual foi escrito o NT) são as mesmas.

Veja também alguns exemplos de palavras que mudaram de sentido com o tempo:

RIVAL: o sentido original desta palavra é simplesmente para designar habitantes de margens opostas de um rio. Hoje significa contendor.

SALÁRIO: era a quantidade de sal que se dava como pagamento aos trabalhadores. Modernamente, passou a significar ordenado.

QUARTO: esta palavra era usada para determinar a quarta parte. Hoje, as casas tem dois quartos, três quartos e outros cômodos maiores, como a sala, por exemplo.

LENÇOL: Por incrível que pareça, lençol vem do latim “linteolu” e é o diminutivo de lenço.

MARECHAL: etimologicamente significa “o tratador de cavalos”. Entretanto, o seu sentido se enobreceu e o vocábulo indica hoje o mais alto posto do exército.

RESUMINDO:

Os batistas dizem que “batizar é imergir e imergir é batizar”. Isso é verdade? Não no grego clássico, em que, conforme vimos, a palavra tinha sentidos variados. Contudo, mesmo que fosse verdade, isso não provaria nada, pois o grego dos judeus e dos autores do Novo Testamento não era o clássico, mas o koinê. O sentido de uma palavra no grego clássico pode ajudar a esclarecer, mas não pode, jamais, definir o sentido de uma palavra no NT.

(continua)


BIBLIOGRAFIA:

[1] Classic Baptism (An inquiry Into The meaning of the word Baptizo. As determined by the usage of Classical Greek Writers). Veja também seus outros dois livros: Judaic Baptism e Johannic Baptism.

[2] Para ver algumas fontes e exemplos destes usos nos clássicos pode consultar, além do referido livro, este link (em inglês):http://www.benkeshet.com/webhelp_baptism/WebHelp/The_Meaning_of_Baptizo/chpte10_baptizo_old.htm

[3] Adaptado de http://www.recantodasletras.com.br/artigos/382345.

certamente há outras fontes às quais devo algo, mas não me lembro no momento...

Rev. Maurício de Almeida Soares