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domingo, 2 de dezembro de 2012

QUEM É CULPADO PELA IGREJA?

Esta palavra do Senhor veio a mim: “Que é que vocês querem dizer quando citam este provérbio sobre Israel: ‘Os pais comem uvas verdes, e os dentes dos filhos se embotam’? Juro pela minha vida, palavra do Soberano Senhor, que vocês não citarão mais esse provérbio em Israel. Pois todos me pertencem. Tanto o pai como o filho me pertencem. Aquele que pecar é que morrerá.” (Ez 18.1-5)

Tenho visto reações variadas e surpreendentes às minhas reflexões desde o lançamento de meu primeiro livro, O Fim de Uma Era, até o post mais recente deste blog. Uns aplaudem, outros discordam, outros me desmerecem e questionam meus motivos. Há ainda os que lançam culpa uns sobre os outros. Tenho falado sobre o estado calamitoso da Igreja dos nossos dias. E, afinal, quem não tem discorrido sobre este tema tão atual e que nos causa tanto sofrimento? Todos têm opiniões formadas sobre o que há de errado com a Igreja e, a partir delas, tecem suas teorias sobre o que nos aconteceu e por que estamos tão distantes do ideal.

Eu lamento que poucos ponderam soluções e se questionam sobre a própria contribuição à confusão que se instaurou. Tenho tentado defender algumas. Mas a maioria se detém na crítica ou parte para apontar os responsáveis por essa tragédia. Muitos acusam os pastores de serem os causadores do mal. “São uns interesseiros”, dizem uns. “São um bando de imprestáveis”, outros se aventuram a denunciar. Já os pastores que conheço lamentam a falta de qualquer tipo de espiritualidade no seu povo, mesmo sendo eles homens íntegros e de oração. Quem sabe o problema não se acha na política eclesiástica? Quem sabe não são as estruturas que nos levam a agir da maneira que agimos?

Creio que o problema é mais simples do que esse. Nós – você e eu – não temos posto em prática as Escrituras. Temos deixado que a nossa espiritualidade viva a reboque do que outros fazem ou fizeram. Claro que há fatores que nos levam a agir assim. Claro que os líderes têm uma parcela de culpa. Mas é igualmente claro que o problema sistêmico que se apoderou da Igreja vem se avolumando ao longo de décadas. Nossos pais e os pais dos nossos pais, assim como nós, foram herdeiros de legados mistos. Legados que passaram de geração a geração coisas boas ou ruins. Pela omissão de alguns dos nossos ancestrais, sim. Pelos pecados de comissão, também, sem dúvida. Mas, podemos realmente dizer que somos as vítimas da história? Eu certamente não vou lançar a “primeira pedra”. Estou no ministério já faz 31 anos. Tenho a minha parcela de culpa. Assumo os meus erros e tenho a clareza de que não sabia o que sei hoje quando comecei. Sei ainda mais: que ainda tenho demais para aprender. E com essa certeza clamo a Deus para que eu possa contribuir para uma solução. Pois ficar paralisado num caldo de análise coletiva não vai nos tirar do atoleiro no qual nos achamos.

Sim, cada um terá de olhar para si e entender que o problema é do coração. Podemos muito bem reclamar de líderes, tal qual Saul, que foi destituído do trono de Israel por Deus devido a seu procedimento. Mas o seu sucessor, Davi, não revidou – embora Saul estivesse resolvido a matá-lo. Ele foi um bom discípulo, mesmo que o seu mestre tenha sido um desqualificado. De igual modo, Samuel pôde ouvir a voz de Deus e ser preparado para um ministério profético extraordinário, embora o seu mestre, Eli, estivesse em franca desobediência a Deus, junto com os seus filhos – que perverteram e praticaram abominações dentro do próprio templo.

É certo que precisamos entender o que nos aconteceu. Mas apontar culpados não ajuda. Temos de olhar para o nosso próprio coração. Cada pastor, cada membro, cada fiel precisa dobrar o seu próprio joelho perante o trono da graça e pedir perdão. Cada um tem de abrir novamente as Escrituras e ser fiel no pouco. Cada um de nós, a partir de agora, ou faz parte da solução ou faz parte do problema.

Aquele que ouve a palavra, mas não a põe em prática, é semelhante a um homem que olha a sua face num espelho. (Tg 1.23).

Enquanto muitos estão usando a Bíblia como espelho retrovisor, creio que ela foi escrita para que fosse um espelho pessoal. Está mais do que na hora de nos enxergarmos a nós mesmos e fazer algo a respeito daquilo que vemos. Quanto a mim, estou tentando. Sim, estou tentando.

Na paz,
+W


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