
Como evangélicos, fomos pioneiros no hábito de identificar até os nossos automóveis como pertencentes aos crentes. Sim, pois já faz muitos anos que começamos a pôr adesivos nos para-choques e para-brisas. Um hábito que parecia ser mais do mundo dos caminhoneiros passou a ser praticado por todo novo convertido, com o intuito de se identificar como tal. Cristo é meu copiloto; Tudo é força, só Deus é poder; e até o insólito Sou crente dizimista e daí? são adesivos que todos já viram, se não inúmeras vezes, com certeza pelo menos uma vez na vida. Se não fosse o bastante, fizemos escola: agora os católicos adotaram nosso hábito, com adesivos de Nossa Senhora, e até os espíritas têm os seus, como os de São Jorge e os que partem em defesa da reencarnação.
Mas, entre os evangélicos, cada evento, cada campanha e cada aniversário de igreja parece acabar numa camiseta. Já ganhei de presente mais peças de roupa de igrejas aniversariando do que queira me lembrar. Tenho uma pilha, não tenho coragem de me desfazer delas – pois sei o que representam para os que as confeccionaram.
Tenho falado sobre a comodificação da fé (isto é, a transformação dos nossos símbolos em bens de consumo) e a sua inevitável banalização. Não vou repetir os argumentos que já se encontram no meu livro, O Fim de Uma Era. Mas recentemente tenho me deparado com uma nova forma dessa manifestação, supostamente cristã. Só que de cristã não tem nada. Seguindo a linha da cantora Madonna, a nova versão desse tipo de artista, a Lady Gaga, tem usado e abusado de motivos sacros em suas roupas e nos símbolos dos quais se cerca. Tanto a primeira quanto a última praticam uma antiga forma de sacrilégio. Literalmente escracham os símbolos do sagrado. É sua forma de tentar chocar, agredir e se promover. Pois vale o ditado “falem mal mas falem de mim”.

Como assisti a esse fenômeno a vida inteira, não me choco mais. É o que é. Especialmente no mundo do entretenimento e das artes, de modo geral, o mundo moderno consegue sustentar um ar de sofisticação denigrindo os símbolos históricos da fé cristã.
Mas o que me choca, de uns tempos para cá, é que os fiéis têm lançado mão dos símbolos cristãos numa escala tão larga e com um mau gosto tão berrante que não consigo mais discernir entre o sacrilégio dos pagãos e o mau gosto dos fiéis. Tenho de olhar duas vezes. Tenho de me perguntar se o cristão que fez aquela camiseta possui uma noção mínima do que realmente é sagrado ou não. Temos nos misturado com os que se deleitam no sacrilégio, por meio da banalização.

Difícil discutir isso, não? Então, por hoje, vou me limitar a lamentar o fato.
Na paz,
+W
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